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Diversa 2017 "Luz dos Olhos Meus". Museu da Diversidade Sexual. 2017. São Paulo- SP

``A obra do artista plástico e escritor Victor Grizzo, "Luz dos Olhos Meus", é como um feixe luminoso a transcender a obscuridade a que é comumente relegada a temática das questões de gênero na infância brasileira. Eugênio, o menino como tantos outros que as páginas literárias insistem em esconder do universo infantil, não gosta de jogar futebol, preferindo a companhia da prima Saturnina, ou de suas amigas imaginárias de cílios-fósforos, com suas brincadeiras de boneca, teatro e dança. Era uma vez um menino que gosta de usar saia, como suas lúdicas companheiras, mas longe dos olhos de sua mãe.
Ela, a mãe, repreendia-o veementemente ao vê-lo trocar a companhia dos irmãos pelas tardes com a prima Saturnina. A imagem da mãe, combinada ao ambiente tenebroso que se instala ao tê-la em cena na aquarela de cada página, a aproxima da velha bruxa dos contos de fadas. Desprezando o lugar comum e tocando num ponto fulcral da questão, a narrativa alcança a complexidade da relação maternal para uma criança que foge ao padrão sexista de desenvolvimento. A perversidade encarnada no ato de tentar castigar e humilhar o filho, colando fósforos em lugar de seus cílios para depois os acender, representa a mão forte do machismo produzindo a violência doméstica, a tentativa de enquadrar as crianças em um padrão repetidamente aceitável e truculento, ainda que pelo meio da mutilação.

Mas Eugênio, com ajuda de suas amigas, obteve o ponto de virada. Enquanto sua mãe dormia, costurou-lhe uma barba. Em frente ao espelho, ela se viu castigada pelos fios do destino devido ao seu comportamento com o filho. Eugênio precisou, portanto, tirá-la de seu lugar comum, desconstruir sua imagem como mulher, para que enfim fosse aceito.

Em tempos em que o poder público vigente deseja banir toda e qualquer menção aos assuntos de gênero em sala de aula, a obra de Victor revela sua dimensão. Não por ser didática ou educadora, longe disso, mas sim por estimular o respeito, aguçar o questionamento, e ser, potencialmente, um lugar de conforto para tantos Eugênios e Eugenias.´´

                                                                                          Larissa Ibúmi.

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